Carlos Alberto Corrêa Salles foi uma figura marcante desde uma palestra em uma Universidade de Belo Horizonte, em 1990. Naquela tarde, sua abordagem se destacou dos outros conferencistas por uma peculiaridade que ele manteve até o final da vida. Enquanto os outros antropomorfizavam a psicopatologia, reduzindo as pessoas às suas doenças com termos como “a histérica” ou “o psicótico”, Carlos Alberto falava do indivíduo e de seu processo de individuação, da condição como pessoa e do jeito de estar no mundo.
Carlos Alberto nasceu em 12 de maio de 1949, em Alfenas, uma cidade do sul de Minas Gerais, conhecida pelas universidades e plantações de café. Estudou medicina na UFMG, em Belo Horizonte, e fez residência em Psiquiatria na FHEMIG. Desejava se especializar em Psicologia Analítica, uma área pouco conhecida no Brasil naquela época. Para isso, mudou-se para a Suíça e estudou no C.G. Jung-Institut Zürich, em Zurique. Sua vida na Suíça não foi fácil; sem recursos próprios, sustentou-se fazendo traduções para outros estudantes, o que lhe permitiu aprender vários idiomas. Apesar das dificuldades, mantinha uma rotina intensa de estudos e trabalho, com lazeres como nadar no lago de Zurique, caminhar e ouvir ópera. Apreciava a culinária suíça e alemã, especialmente Wurst-käse.
No C.G. Jung-Institut Zürich, Carlos Alberto estudou com importantes discípulos de Jung, com quem também fez sua análise pessoal e supervisão. Em novembro de 1987, recebeu o título de analista, filiado à International Association for Analytical Psychology (IAAP) e à Association of Graduate Analytical Psychologists (AGAP).
Ao retornar ao Brasil no final da década de 80, Carlos Alberto criou um grupo de estudo do pensamento junguiano em sua casa, que posteriormente foi transferido para a Associação Médica de Minas Gerais. Com colaboradores empenhados, como José James de Castro Barros, Walter Boechat, Paula Pantoja Boechat, Olavo Romano, Franklin Chang, Napoleão de Macedo e Melo, e outros, fundaram o Instituto C.G. Jung MG em 10 de setembro de 1991. A instituição, sem fins lucrativos, foi filiada à International Association for Analytical Psychology e à Associação Junguiana do Brasil (AJB), criada em 11 de novembro do mesmo ano.
Os primeiros anos do Instituto foram desafiadores financeiramente. Palestras abertas ao público tinham quórum reduzido, com o pensamento lacaniano dominando em Belo Horizonte na década de 90. Em 2002, o Instituto C.G. Jung MG fez parceria com o Centro de Educação Continuada da Universidade Católica de Minas Gerais, oferecendo o Curso de Especialização em Psicologia Analítica Junguiana até 2006. Em 2007, formou-se a primeira turma de candidatos a analistas, incluindo Alberto André de Mendonça.
Nos últimos anos, o Instituto C.G. Jung MG consolidou-se, criando a Clínica Social para atender à população carente e um programa de bolsas de estudo para estudantes com capacidade acadêmica e sem recursos financeiros. Carlos Alberto, então na fase mais produtiva, escrevia e editava livros, incluindo “Somos Feitos da Matéria dos Sonhos” e a versão alemã de “Confessar com o Diabo”, lançada na feira de Frankfurt em 2013.
Em 16 de outubro de 2013, Carlos Alberto foi encontrado inconsciente em seu hotel em Frankfurt e internado em coma. Apesar da saúde debilitada, continuou a trabalhar até seu falecimento em 4 de novembro de 2014. Após sua morte, Alberto Delpino assumiu a presidência do Instituto, mas faleceu 21 dias depois.
Carlos Alberto Corrêa Salles, fundador do Instituto C.G. Jung MG e cofundador da Associação Junguiana do Brasil (AJB), deixou um legado duradouro com 10 livros de Psicologia Analítica, incluindo parcerias em várias obras.
Obras de Carlos Alberto Corrêa Salles:
- Beim Teufel Zur Beichte Gehen: Die Archetypische Dimension Der Religiosität. Frankfurt: S. Fischer Verlag GmbH, 2013.
- Wir Sind Aus Demselben Stoff, Aus Dem Auch Die Träume Sind. Frankfurt: S. Fischer Verlag GmbH, 2012.
- Myths and Legends from Brazil. In: Celebrating Latino Folklore: an encyclopedia of cultural traditions. 3 v. Santa Barbara: ABC-CLIO, 2012.
- Confessar com o Diabo: a dimensão arquetípica da religiosidade. Curitiba: CRV, 2012.
- Estudos sobre a Homossexualidade: debates junguianos. Carlos Alberto Corrêa Salles e Jussara Maria de Fátima César e Melo (org.). São Paulo: Vetor, 2011
- Nos sertões de Guimarães Rosa. Carlos Alberto Corrêa Salles (org.). Curitiba: CRV, 2011.
- Sexualidade e Individuação. Carlos Alberto Corrêa Salles e Jussara Maria de Fátima César e Melo (org.). São Paulo: Vetor, 2007.
- Somos feitos da matéria dos sonhos. Rio de Janeiro: Record, 1998.
- Individuação. Rio de Janeiro: Imago, 1992.
- Sonhos arquetípicos. Rio de Janeiro: Imago, 1990.
